terça-feira, 31 de março de 2009

UM POUCO MAIS DE RATOS E URUBUS...


Liberdade Liberdade fica com o troféu Imprensa, e Ratos e Urubus entra para história como um campeão de audiência.


Meu último artigo recebeu algumas críticas... Sem problemas...

É o destino de quem escreve o que pensa, não é verdade? Mas para não ficar o dito pelo não dito, apresento aqui algumas considerações:

A principal crítica é em relação a coreografia.

Segundo alguns ela teria sido criada no Salgueiro. De fato a primeira ala corografada foi sim apresentada no Salgueiro em 1963. Foi o inesquecível minueto do enredo Chica da Silva, de Arlindo Rodrigues. Porém meu texto argumenta sobre a coreografia em toda a escola, e o desfile que apresentou este elemento pela primeira vez foi “A Criação do mundo na Tradição Nagô” em 1978.

Há também quem não concorde com a afirmação de que Ratos e Urubus foi um divisor de águas na maneira de se fazer carnaval, e defende a idéia de que Kizomba , Vila Izabel, 1988, foi muito mais impactante.

Não estou falando a respeito de impacto, mas de uma visão mais transversal do desfile.

Kizomba foi fabuloso, mas tinha sua criação baseada em moldes conservadores. Falava da cultura negra sem nenhuma novidade - escravidão, força, luta, festa, enfim totalmente Casa Grande Senzala. O grande mérito do enredo era citar a constituição como uma grande Kizomba das raças.

E se formos analisar friamente, João Trinta já havia dados passos muito mais ousados em relação a cultura negra cinco anos antes com “A Grande Constelação das Estrelas Negras”, onde fez uma relação espetacular entre Ganga Zumba e os negros de destaque no Brasil contemporâneo. Quem de nós não gritou “É gol...gol do grande rei Pele” ou não cantou animadamente o refrão “ Pinah, ê ê ê Pinah. A Cinderela Negra que o príncipe encantou no carnaval com seu esplendor.”

Kizomba marcou sim a força de uma comunidade, a garra de Martinho da Vila, a luta de uma escola por sua quadra...Impactante, mas nada inovador em termos de criação de enredo se compararmos ainda com “ Sou Negro do Egito a Liberdade”. Esta foi mais uma das sublimes loucuras de João Trinta, que buscou as origens dos negros brasileiros no Egito e fez um paralelo magistral entre os Orixás e as divindades Egípcias.

Ratos e urubus é um desfile sem comparações porque implodiu o luxo como critério de criação carnavalesca. Isto sem esquecer da concepção do enredo - “Eis a Beija-flor, tão linda...Derramando na avenida frutos de uma imaginação.”.

Um enredo que não tinha classificação por ser inovador. Partia do imaginário e em momento algum fazia alianças com a realidade, enfim João Trinta deu um passo a frente de Fernando Pinto.

Um enredo em que o imaginário era o tom, tudo passou a fazer parte da estória, e destaco a presença dos garis no final do desfile lavando a passarela. Aquele gesto comum aos desfiles ganhou um simbolismo fabuloso: era a água limpando, purificando a vida para que nos transformássemos em seres comuns: “Sou na vida um mendigo, na folia eu sou rei”.

Belerrímo, pra usar uma expressão do Amarildo de Mello.

Quanto a vitória da Imperatriz não argumento contra. Foi um desfile campeão e só.

Não ousou, não inovou, não impactou.

Levantou o publico?

Sim, o samba é um dos mais belos e, embora tenha um métrica questionável, levantou as arquibancadas.

Mas o Beija-flor , logo de cara, fez o publico presente testar as estruturas da passarela do samba, e quem estava diante da TV ficou mais atento do que noveleiro em dia de ultimo capítulo.

E como somos um povo que faz carnaval e assiste novela, Liberdade Liberdade fica com o troféu Imprensa, e Ratos e Urubus entra para história como um campeão de audiência.

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