sábado, 4 de abril de 2009

SAUDADES...CLARA...SAUDADES...


Clara era tão brasileira quanto a Umbanda.



Há 26 anos atrás, numa ensolarada manhã sábado de aleluia ouvi pelo rádio a notícia da morte de Clara Nunes. Foi uma noticia rápida como devem ser os anúncios de morte:

“Faleceu nesta madrugada na Clínica São Vicente a Cantora Clara Nunes, 39 anos, vítima de um choque anafilático que a manteve me coma por 28 dias.”

Logo em seguida Clara entrou cantando “O mar serenou.”. E o dia terminou nublado como se as forças da natureza estivem de luto.

Clara Nunes é uma das cantoras que construíram o imaginário de quem tem mais de 35anos.

Digo isto por que não vejo absolutamente nenhuma personalidade nas cantoras populares de hoje. Sei que pode parecer papo de tio, coisa de velho, frustração de crítico, mas por mais que eu tente não consigo ver diferença entre os estilos, e o que é mais absurdo: não consigo diferenciar as vozes.

E se você consegue diferenciar Ivete Sangalo de Cláudia Leite, certamente possuiu um ouvido de Mozart.

Sei que vão dizer que os tempos são outros e cabe a cada um adaptar-se a realidade, mas sejamos sinceros, a variedade antes era muito mais variada – pra usar uma expressão do Amarildo de Mello.

Clara Nunes possuía não só voz privilegiada – ouçam o CD “Profissão Esperança”- mas um estilo único. Sua imagem é brasileira. Não a brasileira meio lesbian chic que a Ana Carolina quer vender, mas a brasileira mulher, sedutora, mulher que nunca estava satisfeita com o corte de cabelo. Quantas Claras existiam? Quantos cortes de cabelos fossem possivéis, isto sem esquecer a indumentária.

Clara era macumbeira. E fez do seu corpo o templo de sua fé. As pulseiras, os cortes dos vestidos, as saias longas, os torços, tudo possuía um simbolismo religioso que nos deixava encantado.

Acredito que este é o problema da nossa música popular: se tornou classe média, suburbana. Perdeu o seu toque pitoresco, a sua pobreza sublime. Nossas cantoras são displays para propaganda de shampoos e condicionadores de cabelo. Detalhe Clara foi uma das primeiras a usar o permanente (sucesso no início dos anos 80) e não existe propaganda onde ela incite as suas fãs a comprar tal permanente...

Eu penso como será daqui a 20 anos. Quais serão as lembranças que teremos de uma destas grandes cantoras do Brasil atual? Desculpe se sou rude, mas só poderão ser lembradas pelo lucro que deram as gravadoras.

Pra não dizer que sou amante do passado, vejo o brilho de grandes estrelas, ainda que escondidas do grande publico, como é o caso da cantora Rita Ribeiro. Saravá! Saravá! Saravá! A umbanda se renova na voz desta pequena notável maranhense e o Brasil ainda tem esperança.

Saudades...Clara...Saudades...

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