segunda-feira, 6 de abril de 2009

EDINHO UM PASSASISTA QUE DEIXARÁ SAUDADES


saudades de teu talento discreto e forte.


Há vinte minutos atrás li na comunidade da Beijaflor a notícia do falecimento do Edinho, coordenador da ala dos passistas mirins. E como sempre desacreditei no que li. Mas como as mensagens continuavam a chegar acabei por me convencer.

O que me provoca angustia é saber que não tivemos tempo de nos despedir. Vivemos num mundo tão cheio de compromissos profissionais que na maioria das vezes descuidamos do essencial: saborear a presença de quem esta por perto. E o Edinho era um sujeito especial.

Nos conhecemos durante a feitura do carnaval de 1998. Edinho vinha da ala dos passistas e Laíla vendo nele a capacidade de ensinar o nomeou coordenador da ala dos passistas mirins.

Lembro da sua preocupação em organizar planilhas, listas de presença e, sobretudo motivar a participação das crianças nos ensaios. Seu trabalho era discreto.Edinho era um daqueles artistas que jamais perdem a timidez e demonstram o seu talento através dos seus discípulos.

Tive prova disto durante a preparação da festa de lançamento do enredo de 98. Ele me pediu para ensaiar seu quadro separado. As crianças entrariam sambando no ultimo ato. A principio achei aquilo estranho, mas o Laíla foi enfático: “Deixa o Edinho trabalhar do jeito dele, nossa função é avaliar o resultado. Não sofre antes do tempo.”.

E assim foi durante todo o mês de preparação. Nos ensaiávamos as terças e quintas na quadra nova e o Edinho no C.A.C. Um belo dia o Laíla me chamou para irmos ver o que o Edinho tinha organizado.

E lá estávamos crianças sambando de maneira leve. Não era uma coreografia, mas um quadro de samba onde cada uma tinha sua personalidade, seu gingado, sua forma de expressão muito própria.

Laíla olhou pra mim e disse: Viu mane, o sambista quando é bom só precisa de liberdade.

Edinho sorriu agradecendo.

E em seguida fomos à quadra onde Laíla encontrou com o Cid Carvalho e pediu que as roupas das crianças fossem de malandrinhos e passistas antigas.

No grande dia da apresentação, quando Josileide – filha da Pajé Zeneída Lima - entrou no palco cantando “Sou Beijaflor tu és minha rosa, hei de amar-te até morrer” acompanhada pelos passistas mirins, a quadra veio abaixo. Provando que a junção das energias é capaz de tansformar tudo em espetáculo.

Edinho nos deixou prematuramente, mas seu mágico trabalho há de perdurar por toda a história do Beijaflor, pois a energia que distribuiu aos seus passistas mirins será transmitida a outros e depois a outros num seqüencial que o manterá vivo, mesmo que um dia seu nome seja apenas uma lembrança.

Edinho, obrigado por me ensinar a confiar no talento dos outros.

Que os pretos velhos te acolham no reino da paz.

sábado, 4 de abril de 2009

SAUDADES...CLARA...SAUDADES...


Clara era tão brasileira quanto a Umbanda.



Há 26 anos atrás, numa ensolarada manhã sábado de aleluia ouvi pelo rádio a notícia da morte de Clara Nunes. Foi uma noticia rápida como devem ser os anúncios de morte:

“Faleceu nesta madrugada na Clínica São Vicente a Cantora Clara Nunes, 39 anos, vítima de um choque anafilático que a manteve me coma por 28 dias.”

Logo em seguida Clara entrou cantando “O mar serenou.”. E o dia terminou nublado como se as forças da natureza estivem de luto.

Clara Nunes é uma das cantoras que construíram o imaginário de quem tem mais de 35anos.

Digo isto por que não vejo absolutamente nenhuma personalidade nas cantoras populares de hoje. Sei que pode parecer papo de tio, coisa de velho, frustração de crítico, mas por mais que eu tente não consigo ver diferença entre os estilos, e o que é mais absurdo: não consigo diferenciar as vozes.

E se você consegue diferenciar Ivete Sangalo de Cláudia Leite, certamente possuiu um ouvido de Mozart.

Sei que vão dizer que os tempos são outros e cabe a cada um adaptar-se a realidade, mas sejamos sinceros, a variedade antes era muito mais variada – pra usar uma expressão do Amarildo de Mello.

Clara Nunes possuía não só voz privilegiada – ouçam o CD “Profissão Esperança”- mas um estilo único. Sua imagem é brasileira. Não a brasileira meio lesbian chic que a Ana Carolina quer vender, mas a brasileira mulher, sedutora, mulher que nunca estava satisfeita com o corte de cabelo. Quantas Claras existiam? Quantos cortes de cabelos fossem possivéis, isto sem esquecer a indumentária.

Clara era macumbeira. E fez do seu corpo o templo de sua fé. As pulseiras, os cortes dos vestidos, as saias longas, os torços, tudo possuía um simbolismo religioso que nos deixava encantado.

Acredito que este é o problema da nossa música popular: se tornou classe média, suburbana. Perdeu o seu toque pitoresco, a sua pobreza sublime. Nossas cantoras são displays para propaganda de shampoos e condicionadores de cabelo. Detalhe Clara foi uma das primeiras a usar o permanente (sucesso no início dos anos 80) e não existe propaganda onde ela incite as suas fãs a comprar tal permanente...

Eu penso como será daqui a 20 anos. Quais serão as lembranças que teremos de uma destas grandes cantoras do Brasil atual? Desculpe se sou rude, mas só poderão ser lembradas pelo lucro que deram as gravadoras.

Pra não dizer que sou amante do passado, vejo o brilho de grandes estrelas, ainda que escondidas do grande publico, como é o caso da cantora Rita Ribeiro. Saravá! Saravá! Saravá! A umbanda se renova na voz desta pequena notável maranhense e o Brasil ainda tem esperança.

Saudades...Clara...Saudades...