quinta-feira, 26 de março de 2009

O Dilema do Patrocínio.


Detalhe da capela sistina.


De repente o assunto virou gênero de primeira necessidade em alguns debates.
Todo ano é a mesma ladainha purista: tal escola vai fazer enredo patrocinado, estão acabando com o carnaval.
E eu pergunto: e daí? O que seria da arte se não fossem os patrocinadores?
Perdoem os escrupulosos neo românticos , mas a arte nasce nas sociedades equilibradas economicamente.
Quando há possibilidade de manter o ócio dos artistas é que a há avanço na quantidade e na qualidade da arte.
E pra quem duvida, basta lembrar do Renascentismo Italiano, aquele que possui figuras emblemáticas como Leonardo Da Vinci, Michaelângelo, Raphael e Bernini. Gênios que só se tornaram imortais porque existiam patrocinadores dispostos a transformar o vil metal em beleza.
O problema é que nós sambistas (e boa parte dos artistas) somos saudosistas... Cultivamos a feia mania de pintar o passado com cores ingênuas.
O que teria sido da capela Sistina se o Papa Julio III não tivesse patrocinado – através de guerras santas (leia-se saque aos muçulmanos e judeus) – o trabalho de Michaelângelo? Será que forra-la de naylon dublado e colocar umas volutas de acetato seria o ideal, afinal arte não tem preço?
Ora senhores, a arte tem preço, tem custo e fechar os olhos a isto é abstrai-la demais, é torna-la tão sublime ao ponto nos negar o direito de admira-la.
Vivemos uma era de entretenimento mecanizado, de internet, de cinema, de televisão , onde o patrocínio é um dos pilares de sustentação de qualquer uma destas artes.
O desfile carnavalesco é igualmente uma arte que depende da audiência (ou você gostaria de desfilar num sambodromo vazio sem a transmissão da Globo?)e por isto esta sujeito as crise de indiferença e até de hostilidade.
O desfile carnavalesco possui leis que independem de suas limitações gerenciais. Leis de Mercado.
Nós vendemos cultura ao povo. É ele quem compra a entrada, compra a fantasia, que assiste aos desfiles pela TV e precisa ser numeroso para sustentar todo o aparato.
O desafio é transformar em arte o desejo dos patrocinadores.
O carnavalesco, ou os membros de uma Comissão de Carnaval, não podem mais orientar-se pelo desejo de criar o que lhes vem a mente. O mundo mudou e o desafio é criar a beleza num mundo neoliberal.
A adaptação a realidade é o que faz o artista, ou será que nos esquecemos que Leonardo Da Vinci além de pintar a Monalisa criou vários artefatos de guerra. Neste sentido o artista possui muito de Santa Teresinha do Menino Jesus que costumava dizer: “Devo florescer onde Deus me plantar”
Agora se o carnavalesco deseja ser um artista de avant-garde que compre um sítio e monte uma atelier oferecendo suas obras à posteridade, afinal como já disse Nietzsche:
“Há homens que nascem póstumos.”
O problema é que alguns patrocinadores consideram os desfiles carnavalescos uma forma de subarte, porém se observarmos os desfiles com a devida atenção, veremos que uma escola de samba engloba todas as artes e ainda permite a comunicação direta com vários tipos de público. Afinal a busca pela beleza é universal.
Lembro aqui dos grandes carnavais das décadas de 70 e 80. Estes espetáculos foram patrocinados por mecenas como Aniz Abrão David, Luizinho Drumond e Castor de Andrade. Homens que protegiam o carnaval e não visavam a exploração dos desfiles como mercadoria, mas vivemos em outros tempos. O carnaval extrapola as esferas da arte para se tornar também produto.
No fundo o patrocínio só faz mostrar quem é um bom ou mau artista.
Pode-se dizer com certeza que a diferença entre um bom e um mau artista (os popularescos excluídos, evidentemente) é a capacidade de extrair a beleza das coisas. Foi sempre assim em todos os tempos, e agora não é diferente...possuímos bons e maus artistas...
E quem decide isto não é o patrocínio, mas o público...

3 comentários:

  1. Paulo,
    Existem dois lados dessa moeda chamado PATROCÍNIO.
    Uma escola de samba perde sua identidade,seu padrão,tendo que " vender " seu desfile para x empresa só para ter $$$ á mais,ou somente para ser alvo de belos comentarios pela sua " suposta " passagem.
    Nos dias de hoje,todos nós vemos escolas que não sobrevive sem patrocínio.
    Por outro lado vemos tambem escolas sem nenhum investimento,e sem nenhum ( vamos dizer assim; apoio...Do boteco da esquina )
    Daí,Como vai sobreviver a genialidade do carnavalesco?
    ....

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  2. O patrocínio tem suas vantagens e suas desvantagens, de que adianta tanta genialidade se não tem $$$$ para se por em prática o delirio do carnavalesco? Um bom patrocínio garante um bom espetáculo mesmo que o delírio do carnavalesco tenha que ser podado.

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  3. PRA MIM O CURSO DEVERIA SER INVERSO,O CARNAVALESCO CRIARIA O TEMA OU ENREDO DIRECIONANDO SEU PERFIL A UM TIPO OU VARIOS TIPOS DE "PATROCINIOS",DAI TENTAR FECHAR PARCERIAS....A ARTE SE SENTIRIA MENOS TOLIDA EM SEU CONTEXTO.ESSE ANO A BEIJA-FLOR TENTOU ESSE CAMINHO MAS, NÃO SEI POR QUAL MOTIVO, NÃO CONSEGUIU.MAS ACHO QUE DEVERIAM TENTAR ESSE CAMINHO....

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